quinta-feira, 3 de julho de 2014

Por que as Mulheres Mentem

Por que as Mulheres Mentem

            Toda mulher tem em si o germe da maternidade, mesmo que nunca venha a se tornar mãe. Símbolo do amor, guardiã do lar, benfeitora do mundo, a mulher, fascinante ser da criação também é humana e como tal está sujeita a toda sorte de catástrofes a que nós homens estamos sujeitos. Então por que mentem as mulheres?
            Alguns de ânimos exaltados, logo dirão que as mulheres não mentem jamais. Dizem isso sem compreender a extensão de minhas palavras e seu teor quase filosófico, quem sabe?
            A mulher é um ser divino, todos o sabem, mas qual o homem, digo e repito, qual o homem que gostaria de ser mulher?
            Ora, todos os homens mentem, com raríssimas exceções, e são todos seres humanos. As mulheres também são seres humanos, logo...
            Para que não me acusem mais disto ou daquilo, transcrevo uma carta que recebi há alguns dias, que trata exatamente deste assunto.

            Meu nome é Ana Cristina, sou casada e muito bem casada, portanto, o nome é fictício, nem precisaria dizer. Nasci no interior e meu pai, rico fazendeiro da região, era temido por todos: fazendeiros, sitiantes, gente da cidade, por mim e por mamãe.
            Um dia, filha única, filha de seus cuidados, saí para passear e tomar banho de rio. Atrasei-me para o jantar servido pontualmente às cinco e meia. Meu pai se pôs em desespero e irritado, começou a andar de um lado a outro da sala. Mamãe tratou logo de amenizar a situação, disse que eu tinha ido com Tião, um rapazinho que nascera e trabalhava na fazenda, ao pomar colher algumas frutas para a sobremesa e que não tardava a chegar. Papai acalmou-se um pouco, mas logo empertigou-se. Tião entrara na sala trazendo as frutas. Sozinho.
-         Cadê Aninha?
-         Sei não, patrão...
Papai olhou fuzilante para mamãe, descobrira a mentira, porém, antes que pudesse
investir contra ela, entrei na sala correndo e saltitante. Olhei à volta e entendi a situação, também o olhar de mamãe denunciava tudo.
            - Ô, Tião, por que não me esperou?
            Papai, depois de toda a minha cena, acreditou que tudo não passou de brincadeira de criança, mas passou a olhar Tião com certa reserva e cautela.
            Tião e eu crescemos juntos e juntos passamos pela infância e chegamos à adolescência. Tião era rude, mas jeitoso e carinhoso comigo. Nós nos amávamos. Contudo, papai, com todo o seu rigor, jamais permitiria que sua filha, filha de um rico fazendeiro, se envolvesse com um peão. Mesmo assim seguimos com nosso namoro, em segredo, quer dizer, segredo mesmo só havia para papai. Mamãe, atenta, vigiava meus passos e os de papai, mas para tranqüilizar-se de toda, arrumou-me um pretendente, filho de um compadre de papai. Tião esbravejou, praguejou, mas eu o convenci de que seria melhor, até arranjarmos as coisas. Assim, namorava abertamente com Justino, nome também fictício e às escondidas com meu amado Tião.
            Tião e eu passamos dos limites: engravidei. Tião queria casar, enfrentar papai e eu consegui, não sem muito esforço, fazer com que visse o absurdo que isso seria; papai certamente o mataria. Mamãe, como já disse, sempre atenta, conversando com papai, assegurou-lhe que eu amava Justino e que era preciso que nos casássemos logo.Não sem desconfiança, papai consentiu. Dos males, disse ele, se é que existe algum mal, o menor. Eu e Tião nos separamos tristemente. Tião era empregado aos olhos de papai e aos meus, jamais poderia... Ao passo que Justino era rico e herdeiro...
            Dali a pouco, casávamos Justino e eu. Tião partiu, mas jurou que um dia voltaria para buscar a mim e ao nosso filho, assim que fizesse fortuna.
            Nosso filho nasceu daí a sete meses, mas não houve reboliço, porque o bebê era franzino e ninguém duvidou que ele era realmente de sete meses. Talvez alguém desconfiasse, mas nunca disse nada e nem teria coragem. Nasceu rico e herdeiro como o pai.
            Anos depois, papai já falecido e eu com três filhos, reencontro Tião em nossa pequena, mas bela cidade.
            Tião pergunta pelo menino, digo que está bem, é forte e robusto como os outros. Pede para vê-lo. Não consinto. Diz que está bem de vida, possui fazenda, gado e tudo mais para me dar conforto, a mim e aos meus filhos.
            - Agora que seu pai morreu...
            Sinto uma faca a dilacerar-me o peito, eu ainda o amo e muito, quase como nos tempos de infância... Porém...
            - Desculpe Tião, amo meu marido e jamais o deixaria, nem ele nem meus filhos, por nada deste mundo...
            Tião se afasta com grande revolta e sofrimento, mas afinal, a vida continua...
            Menti! Menti! Menti!
            Por que eu menti?

            E eu aqui... Não vou dizer mais nada.









20/10-21/10/05

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