terça-feira, 23 de novembro de 2010

Por que os Homens Mentem 2

Após dezenas e dezenas de críticas, resolvi perdoar essas mulheres que me acusaram de machista sem perceber que, nas entrelinhas, eu me coloquei como o mais perfeito canalha; e que, por fim, não creditaram às mães a culpa pelas mentiras dos homens. Insistem que as mães ensinam os homens a não mentir, pois bem, leiam-me com atenção desta vez.
Tenho um grande amigo, o Alfredo, homem que nunca mentiu, nem quando criança, nem nunca. Agradável, sabe conversar como poucos; pai de três filhos e divorciado há alguns poucos meses.
Desde pequeno, sua mãe, D. Augusta, que Deus a tenha, sempre lhe ensinou:
- Alfredinho, papai do céu não gosta de mentiras, mentir é feio, diga sempre a verdade, por mais que doa...
Vai então, que Alfredinho com cinco ou seis anos, brincando de bola na sala, e diga-se logo que dentro de casa não é lugar para tornar-se um Roberto Carlos da vida, mesmo que este ainda não fosse nem nascido, prepara-se para cobrar uma falta e acerta em cheio o vaso de cristal, herança de sua bisavó, partindo-o em mil pedaços. D. Augusta assustou-se, fazia a “ciesta” e veio pronta a ver o que tinha acontecido.
- Filho de Deus, o que você fez?
Alfredinho, papai do céu não gosta de mentiras, contou-lhe tudo e tome uma saraivada de mãos e chinelos.
- Dentro de casa não é lugar de jogar bola, por que não foi para a rua...
- Porque mamãe não deixa, dizia ele entre um soluço e outro.
- Já de castigo...
Meia hora depois, D. Augusta entra no quarto do filho e explica, carinhosamente,
que a surra que ele, Alfredinho, tinha acabado de tomar, foi pelo vaso que já atravessava séculos e que mamãe estava nervosa e que ainda bem que ele disse a verdade, senão poderia ter sido muito pior e que ela o amava e que...
- Diga sempre a verdade, Alfredinho!
Tempos depois, ainda criança, Alfredinho, teve sua primeira e grande decepção. Sua professora, sua amada professora era casada. Ficou tão magoado que nem quis pegar nos cadernos para estudar para a prova do dia seguinte. Zero. Quando D. Augusta recebeu a prova para assinar, como o deveriam fazer todos os pais, quis saber o motivo de tal façanha.
Alfredinho, mentir é feio, contou-lhe tudo e tome nova saraivada de mãos e chinelos; onde já se viu um moleque, naquela idade...
- Já para o quarto de castigo...
Alguns minutos depois.
- Desculpe filhinho, mamãe ficou nervosa... É só isso que você tem para fazer na vida... Você ainda é uma criança... Deveria gostar apenas de mamãe... Aprenda que você não pode confundir as coisas... Você ainda é uma criança... Diga sempre a verdade, Alfredinho!
E Alfredinho cresceu, tornou-se Alfredo. Homem íntegro, jamais mentiu. Passava por todas as dificuldades do mundo sem reclamar, sem pestanejar, sempre crescendo e sempre com sua honestidade ilibada.
Casou-se aos vinte e sete anos, já com casa e reputação formada. Seu único vício, talvez, era o “happy hour” com os amigos uma ou outra vez por semana, com pleno conhecimento da mulher.
Certa vez, encontrou o sogro que saía feliz com duas mulheres a tiracolo. O sogro, conhecendo a fama do genro, ficou vermelho, estático, depois sorriu, “coisas de homem”, disse e seguiu em frente. Chegou em casa de madrugada. Teve bafafá. Convocou o genro, um homem jamais entrega o outro, a depor em seu favor. Alfredo depôs... Contra o sogro que perdeu casa, mulher, o amor dos filhos e, principalmente, da filha. Alfredo entristeceu-se, mas diga sempre a verdade, Alfredinho, por mais que doa...
Sua sogra entrou em depressão e morreu pouco depois. O sogro de vez em sempre o acusava de não ser solidário e de ter matado a esposa. Se ela nunca ficasse sabendo...
Nasceram-lhe os filhos, todos grandes e saudáveis, três homens, três rapagões.
Vai que um dia, lembrando-se de sua mãe, a sempre venerável D. Augusta, comete um erro grosseiro no escritório, destes dignos de um novato.
Convocado pelo chefe a dar explicações, Alfredinho, papai do céu não gosta de mentiras, contou-lhe que se distraiu a lembrar de sua eterna e amada mãe. Perdeu o emprego. Todo mundo no escritório, quando faziam besteira, colocavam a culpa no novato, afinal ele estava aprendendo e mesmo sendo o patrão tão ranzinza, perdoaria o novato; nunca alguém com experiência. Alfredo nunca mentiu. Alfredinho, mentir é feio...
Trinta anos de dedicação e agora Alfredo não sabia o que fazer, pela primeira vez sentiu o peso do mundo. Saiu sozinho e foi a um bar encher a cara. Triste e desconsolado, bebeu demais e deixou-se levar. Na entrada do motel cruza com o sogro que sai e lhe manda a cara um sorriso de total satisfação. Alfredo não vê o triunfo do sogro, está bêbado demais para se dar conta do que fazia.
Quando chega em casa é dia alto. A mulher o interroga:
- O que aconteceu com você, Alfredo, fiquei preocupada, você nunca fez isso, desaparecer sem avisar...
Alfredinho, diga sempre a verdade, por mais que doa...
Alfredo contou-lhe tudo, caiu de joelhos, implorou perdão, mas a mulher o comparou ao pai que chegava neste exato momento para humilhar pelo menos um pouquinho o miserável do genro, porém, sua filha não lhe deu tempo e mandou os dois às favas...
Alfredo é respeitado, nunca mentiu. Trabalha hoje como autônomo. Tem muitos clientes. Ajuda a sustentar os filhos, frutos de um casamento de trinta anos e um único erro. Vive muito bem sozinho. Longe do sogro, bem longe do sogro. Vive bem, com saudades, é verdade, com muitas saudades...
E que D. Augusta, que Deus a tenha, descanse em paz!