“Os beijos que não tive por tolice
Por timidez o que sofrer não pude
E por pudor os versos que não disse.”
Olavo Bilac
Na solidão do quarto as altas horas
O altivo coração descompassado
Sem do Letes as águas Ter provado
Sentia ainda tardar a nova aurora.
- Ah! Mísero poeta, por quem choras?
- Choro por Áurea, a quem sou devotado
A quem na solidão, eu tenho amado
Beijando a sombra em suplicas, embora,
Não me devolva a paz, não cale os ais.
- A ela confessaste teu amor?
- Sim, e sem ter palavras de rancor,
Vi sepultado o coração. Jamais
Senti fria descrença no futuro
Quando entre minhas lágrimas eu vi
O quanto lhe doía estar ali.
- Que diz!? Achas que foste prematuro?!
- Não! Talvez, prematura seja a vida...
Há muito que ela sabe o quanto a amo,
Onde notei a dor e não reclamo,
Foi ao leito, quando ela, arrependida,
Não escondeu o mal que lhe causei.
- Então, juntos nos braços da saudade
Se entregaram?
- Nos braços, em verdade,
Do vinho e não dos beijos que eu amei.
- Como? Não era o que querias tu?
- Sim, tê-la aos braços era o meu desejo
Sufocado por dúzias de seus beijos
Sentindo aquele corpo amado e nu
Mas, não ao preço que me foi cobrado;
O torpor e a saudade foram fortes,
Deus sabe que preferiria a morte
Do que a Ter com meu zelo, machucado.
- Julgas a Ter ferido?
- O que pensar?
Consola-me este olhar: “a noite fria...
Mágoa e rancor, temor? Não poderia
Aquele seio amado armazenar...”
Prefiro crer que errei e, novamente,
Movido pelo amor, pela esperança,
Ver, dela, o coração nascer criança,
Brotando em nova flor desta semente...
- E ao reencontrá-la, que dirás?
- Perdão!
- E se negado for?
- Suplicarei!
- Se ela pedir que parta?
- Ficarei!
- Se ela disser: “Loucura”?
- Eu, paixão!
- Se ela disser: “Menti”?
- Eu perdoarei!
- “Te usei para a vingança!”
- Com razão!
- “Ora não te rebaixes!”
- Por que não?!
- “Eu te não amo! Parta!”
- Morrerei!
- Não se morre de amor, tu exageras!
- Não se more de amor?! E o olhar sem vida,
E o mórbido vagar, folha partida
No encontro com estranhos? Ah! Quem dera!
Aquele que encontrar-me irá dizer,
Sentindo que choro por minha amada:
“Eis um homem que vive sem viver!”
- Queres, então, viver em solidão?
- Se assim, puder amar.
- Sem tê-la aos braços?
- A saudade, a lembrança, aqueles traços,
Eis tudo que preciso ao coração.
- Mentes, tu não a quer!!
- Falso pudor!
Inda sonho co’s beijos que não tive
E em meu peito ela, ela ainda vive
O que não quero é ver morrer o amor!...
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