sábado, 23 de julho de 2011

SOMBRAS



Navegando entre os mares do devaneio buscando aos céus os favores da clausura,
ardendo em ânsias, rugindo em fúria, vítima do suplício... constante amigo... Sombras!
Neste solo fecundo de amores e de pesar, sob a pena de viver amargurado,
deixei que a mão sobre o papel pousasse, riscando vezos, sufocando dores e,
destes versos que o labor me entoa, sorvi meu sangue, derramei meu pranto...
Pendidos passos da loucura errante, eis que as Sombras do poeta ressurgem em versos
 que pairam junto ao corpo amante, que são da poesia a luta, deixados ao vento para que
 olhares indiscretos encontrem um meio de chorar e amar na vida...
Eis um poeta, eis um tolo, eis o verbo, as trevas, a luz...
Deixai a lousa suspirar meu canto!

V.A

O Remorso e o Poeta (Eco)

“Os beijos que não tive por tolice
Por timidez o que sofrer não pude
E por pudor os versos que não disse.”
Olavo Bilac

Na solidão do quarto as altas horas
O altivo coração descompassado
Sem do Letes as águas Ter provado
Sentia ainda tardar a nova aurora.

- Ah! Mísero poeta, por quem choras?
- Choro por Áurea, a quem sou devotado
A quem na solidão, eu tenho amado
Beijando a sombra em suplicas, embora,
Não me devolva a paz, não cale os ais.
- A ela confessaste teu amor?
- Sim, e sem ter palavras de rancor,
Vi sepultado o coração. Jamais
Senti fria descrença no futuro
Quando entre minhas lágrimas eu vi
O quanto lhe doía estar ali.
- Que diz!? Achas que foste prematuro?!
- Não! Talvez, prematura seja a vida...
Há muito que ela sabe o quanto a amo,
Onde notei a dor e não reclamo,
Foi ao leito, quando ela, arrependida,
Não escondeu o mal que lhe causei.
- Então, juntos nos braços da saudade
Se entregaram?
- Nos braços, em verdade,
Do vinho e não dos beijos que eu amei.
- Como? Não era o que querias tu?
- Sim, tê-la aos braços era o meu desejo
Sufocado por dúzias de seus beijos
Sentindo aquele corpo amado e nu
Mas, não ao preço que me foi cobrado;
O torpor e a saudade foram fortes,
Deus sabe que preferiria a morte
Do que a Ter com meu zelo, machucado.
- Julgas a Ter ferido?
- O que pensar?
Consola-me este olhar: “a noite fria...
Mágoa e rancor, temor? Não poderia
Aquele seio amado armazenar...”
Prefiro crer que errei e, novamente,
Movido pelo amor, pela esperança,
Ver, dela, o coração nascer criança,
Brotando em nova flor desta semente...
- E ao reencontrá-la, que dirás?
- Perdão!
- E se negado for?
- Suplicarei!
- Se ela pedir que parta?
- Ficarei!
- Se ela disser: “Loucura”?
- Eu, paixão!
- Se ela disser: “Menti”?
- Eu perdoarei!
- “Te usei para a vingança!”
- Com razão!
- “Ora não te rebaixes!”
- Por que não?!
- “Eu te não amo! Parta!”
- Morrerei!
- Não se morre de amor, tu exageras!
- Não se more de amor?! E o olhar sem vida,
E o mórbido vagar, folha partida
No encontro com estranhos? Ah! Quem dera!
Aquele que encontrar-me irá dizer,
Sentindo que choro por minha amada:
“Eis um homem que vive sem viver!”
- Queres, então, viver em solidão?
- Se assim, puder amar.
- Sem tê-la aos braços?
- A saudade, a lembrança, aqueles traços,
Eis tudo que preciso ao coração.
- Mentes, tu não a quer!!
- Falso pudor!
Inda sonho co’s beijos que não tive
E em meu peito ela, ela ainda vive
O que não quero é ver morrer o amor!...

Autópsia

Quis abrir meu peito
Encontrar o defeito
Vasculhar minhas entranhas
Entender esta dor estranha
Que me rasga a alma
Numa loucura sem traumas
Que fervilha o corte, sem sorte
Profundo e sem morte
Do peito aberto, exposto
Frágil, sem rosto
Do ofegante coração
Que transborda em paixão.

Amor, Prazer e Fogo

Beijei teu corpo e que prazer senti!
Tua boca, teus seios, tudo enfim...
Ansiava amor e amor te ofereci!
Entregaste teu corpo lasso a mim.

Tua pele em fogo a exalar jasmim
Contaminou-me a boca e me esqueci
Do meu prazer por teu prazer. Assim,
Vendo-te arder, gemer... enlouqueci!

Abraçaste-me então a suspirar
Suaves convulsões que ainda sinto
Em minha carne a arder em febre e fogo!

Não me exiles do vale do teu corpo
E deixa-me gozar pois eu não minto
É meu prazer o teu prazer... Amar!

Um Beijo

Um beijo, foste tudo o que me deste,
Um beijo e nada mais;
Não sei que lembrança agora a trouxeste,
A percorrer meus ais.

Folgo-me, lembrar-te , em teu meigo riso,
O beijo que me deste;
Consolo-me co’a lembrança furtiva,
De teu rosto celeste.

Choro o beijo, que não terei jamais;
O beijo que me deste;
Choro por outros, meus frágeis rivais,
Os beijos que me deste.

Um beijo, foste tudo que me deste,
Um beijo e nada mais;
Não sei que lembrança agora a trouxeste,
A percorrer meus ais.

Navegante

Navego ofegante
Pelas ondas do teu corpo
Meus gemidos
Nem sempre constantes
Penetram tua pele
Levando-te a preciosos instantes
De uma profunda loucura
Quando me arranha
Me morde, murmura
Gritando sou tua
Levando-me 
A um estado de embriaguês
Tão sóbria, tão crua
Que exausto
Como o vinho
Bebido em pequenos goles
Faço meu
O teu prazer.

Casamento na Roça - 1ª versão

Comédia em um ato
Cenário: Sala da casa de seu Juvenal. Sofá, poltronas e algumas cadeiras de madeira e uma cadeira de balanço.

Cena I
Juvenal sentado na cadeira de balanço, chapéu enterrado na cabeça, picando fumo e bebericando um copo de aguardente. Entra sua filha Juvenocência.

Juvenocência: Pai! Cê tá muito ocupado?
Juvenal: (como quem não quer nada) Um pouco filha... tô matutando...
Juvenocência: É queu precisava muito di falá co sinhô.
Juvenal: Pois antão, fale Juvenocência, fale.
Juvenocência: Dalberto pai...
Juvenal: Qui tem eli?
Juvenocência: Sabe qui nóis namoremo faiz tempo.
Juvenal: Sei sim, fia, sei sim e como sei.
Juvenocência: Pois é pai, acho que eli ta minrolando. 
Juvenal: Por que ocê tá mi dizendo isso minha fia.
Juvenocência: Eli nun ta querendo casa não.
Juvenal: Si minha fia qué, nóis dá um jeito.
Juvenocência: Carece não.
Juvenal: Antão pro mó di que se veio mi conta isso.
Juvenocência: Pru sinhô si prepará caso eli quera fugir da responsabilidade. Aí sim, si eli nun quisé arca cum feito, aí o pai cunversa co ele.
Juvenal: (Desconfiado) Di qui responsabilidade cê tá falandu?
Juvenocência: A do casório, ué. Eli vai tê qui casá.
Juvenal: Qui que ocê tá dizenu?
Juvenocência: É queu imbuxei.
Juvenal: Mais comu?
Juvenocência: Do jeito tradicionar, ué!
Juvenal: Cê tá mi dizenu qui aqule filho dum coice d’égua teve o displante di lhi fazê mar.
Juvenocência: Feiz não.
Juvenal: como não si ocê tá prenha?
Juvenocência: Pois é! Feiz tão bem queu imbuxei.
Juvenal: Mais qui conversa é essa Juvenocência?...
Juvenocência: Carma pai, carma...
Juvenal: Carmá como si eli num qué casá e ocê ainda vem mi contá tudo isso com a cara mais lambida do mundo?
Juvenocência: Qui otra cara eu ia te pra contá. Dispois eli inda num sabe do fio, cuando subé, eli casa.
Juvenal: Pois eu vô tê uns dois dedinhos de prosa cuesse cão dos inferno. Só vô apanha meu revorvi e ocê vai vê só. (sai).

Cena II
Juvenocência só e muito tranqüila

Juvenocência: Ai, ai... tenho qui acarmá a fera si não vai tê tragédia.

(Entra Inocência, a mãe)

Inocência: Fia de Deus! Qui foi qui ocê disse pru seu pai tá neste estado.
Juvenocência: Nada de mais, mãe. Eu só disse qui to imbuxada.
Inocência: Cê tá dizenu qui o Dalberto lhi feiz mar?
Juvenocência: Mar nada, mãe. Eli feiz foi muito bem, tanto qui nois arrepetimos várias veiz.
Inocência: Cê tá muito é desavergonhada, fia.
Juvenocência: To não, mãe. A sinhora sabi qui eu amu o Dalberto, num sabi?
Inocência: Mais num é assim não minha fia. Uma muié di respeito só pode si intregá adispois do casamento. E agora?... Eli casa, num casa?
Juvenocência: Qué não!
Inocência: Mais como?
Juvenocência: Eli num sabi do fio.
Inocência: Mais tem di sabê minha fia, tem di sabê.
Juvenocêcia: E vai, mãe. Agorinha mesmo eli tá chegano pra gente cunversá.
Inocência: Meu Deus! Seu pai vai matá eli aqui mesmo na sala. Vô já e já tentá acarmá o homi. (sai)

Cena III
Juvenocência sozinha. Entra Dalberto.

Dalberto: Oi minha flô!
Juvenocência: Oi meu amô! Qui bão qui ocê chegô. Nois tem muito qui conversá.
Dalberto: Fala minha jabuticaba, fala queu tô ouvino.
Juvenocência: Nois precisemo di casá.
Dalberto: Casá não, minha formusura, qui nois semo muito novo. Deixa isso pra depois, vamo logo namorá.
Juvenocência: Num dá não Dalberto! Cê num mi ama?
Dalberto: Amo, Ju, amo muito, mais pra quê a pressa? Vamo cum carma...
Juvenocência: Dá não, Dalberto!
Dalberto: Pur que minha flô di maracujá?
Juvenocência: Cê mi...

Cena VI
(Entra Juvenal e dona Inocência)

Juvenal: Cê tá aí fio duma égua! Nois tem muito qui acertá.
Dalberto: Carma lá, meu sogro. Por que tá tão nervoso?
Juvenal: num mi chame de sogro seu fio dum cão.
Inocência: Carma, Juvenal, óia o coração.
Juvenal: Qui coração qui nada! Deixa di bestera muié!
Juvenocência: Carma, pai. Eu inda num falei cum eli.
Juvenal: Carma nada. Eli te imbuxou, agora casa.
Dalberto: Cê tá prenha, minha flô, mais como?
Juvenal: Como si ocê num subesse... E deixa desse trololó eu quero é sabê si ocê casa ou num casa?
Dalberto: Apesar do fio... caso não. Nóis é muito jovem, deixa passa mais tempo. Eu ajudo a cuidá do bacuri e mais tarde nóis casa.
Juvenal: Mais tarde, mais tempo qui nada, cê vai casá e é já!
Dalberto: Caso não.
Juvenal: Casa!
Dalberto: Num caso.
Juvenal: Casa.
Dalberto: Num caso, num caso e num caso.
Juvenal: (Pondo o revolver na cara de Dalberto) Casa.
Dalberto: Caso, claro qui caso. Como não haverá di casá co’essa formosura...
Juvenal: (baixando a arma) Então casa?
Dalberto: Caso. Mais tenho de ir avisá meus pais.
Juvenal: Vou mandá chamá seus pais e o padre.
Dalberto (tentando fugir) Carece não. Eu vô num pé e vorto noutro.
Juvenal: (segurando o braço de Dalberto) Senta aí pra noivá, ocê só sai daqui casado. O Bastião vai lá chamá. (gritando) Bastião, ô Bastião, anda aqui seu cão sarnento.

Cena V
(Os mesmos e entra Bastião)

Bastião: Padrim chamô.
Juvenal: Não, tô gritando pra mode aquecê a garganta.
Bastião: (saindo) Ah!
Juvenal: Vorta aqui, fio dum cão. É claro qui eu tô chamando. Vai lá na casa do cumpadre Celestino e manda vir toda a famia pra cá. Adispois, ocê vai na igreja e chama já seu Padre pra vim aqui com destreza qui é caso di vida e morte.
Dalberto: Pra que tudo isso, meu sogro? Já num disse que caso.
Juvenocência: É pai, eli já disse...
Inocência: Carma, homi, vamos esperá cum carma.

(Juvenal senta na cadeira de balanço e fica encarando Dalberto)

Cena VI
(Os mesmos sentados e em silêncio. Entra o Padre)

Padre: O que aconteceu, seu Juvenal? Vim o mais rápido que eu pude.
Juvenal: (em pé apontando para Dalberto) Esse filho dum paria imbuxou minha fia.
Padre: Mas Como?
Juvenocência: Mais pur que qui todo muno fica perguntando isso? Do jeito tradicionar, ué. Por um acaso tem otro jeito?
Juvenal: Cala boca, fia desavergonhada.
Inocência: Isso num é jeito di ocê falá cum tua fia...
Dalberto: E muito menos cum minha futura esposa.

Cena VII
(Entra seu Celestino, pai de Dalberto, dona filomena e Maricota acompanhados de Bastião)

Celestino: Futura o quê?
Juvenal: Isso mesmo qui o sinhô ouviu. Seu fio feiz mar pra minha fia e agora tem qui casa.
Juvenocência: Feiz mar não, pai. Eli feiz foi bem demais.
Dalberto: E como foi bão, sô!
D. Filó: Mais meu fio, ocê ainda é muito novo.
Juvenal: Novo! Gente nova num faiz o que ele feiz.
Padre: Os tempos estão mudados seu Juvenal.
Juvenal: Só si mudô pras bandas da cidade di onde o sinhô vem. Puraqui tá tudo na mesma: Imbuxô, casô.
Maricota: (a parte) Se o Dalberto casá eu também caso. O Dalberto vai casá, pai?
Celestino: Vai não, qui fio meu num casa as pressa, não.
Juvenal: Casa.
Celestino: num casa.
Juvenal: Casa.
Celestino: Num casa, num casa e num casa.
Juvenal: (Apontando o revolver) Casa.
Celestino: (Também com um revolver) Num casa.
Inocência: Ai dona Filó, mi ajuda a sigurá os homi.
D. Filó: Carma gente, carma, vamos conversá. Cunversando a gente si intendi.
Maricota: ( a parte para Bastião) Nunca vi ninguém morre. Será qui elis si matão?
Bastião: (cochichando) Matão nada, isso é cunversa di gente frouxa.
Padre: (se pondo no meio dos dois homens) Calma meus irmãos. Se vocês não se respeitam, respeitem suas mulheres, d. Inocência, d. Filó e, principalmente, respeitem a mim que sou um emissário de Nosso Senhor. Falemos com os jovens. Juvenocência, você que se casar com o Dalberto.
Juvenal: Nessa hora num tem querê.

(O padre faz um sinal para que seu Juvenal se cale.)

Juvenocência: Quero Padre, é o qui eu mais quero.
Padre: Dalberto, você quer casar com a nossa Juvenocência?
Dalberto: Si meu pai num quisé, eu num caso não.
Juvenocência: Como Dalberto, se disse qui mi ama, num disse...
Juvenal: Comu num qué?
Celestino: Num querendo. Si eli casá eu num vô lhi dá um tustão.
Juvenal: Pois eu num quero o seu dinheiro, Celestino. Aqui na minha roça tem tudo di fartura. Dá pra todu mundo. O que eu quero é que seu fio lave a honra da minha fia casando ou morrendo.
Padre: Isso vai acabar é na delegacia.

Cena VIII
(Enquanto os homens avançam uns sobre os outros e o Padre e as esposas tentam separa-los, Dalberto e Juvenocência continuam no sofá e Maricota conversa com Bastião)

Maricota: Bastião, cê qué namorá comigo? Si Dalberto morre eu fico cum tudo, si ele casa eu também vou fica cum tudo.
Bastião: Aí é seu pai qui vai querê matá um. I vô sê eu.
Maricota: Nóis só vamo namora, seu bobo.
Bastião: I quem disse que eu vô arresistir a sua furmusura.
Maricota: Então... casemo também.
Bastião: Será qui seu pai deixa?
Maricota: (alto) Pai! Eu e o Bastião também queremo casá!
Celestino: E essa agora! Ô muié! Põe juízo na cabeça di tua fia.
Padre: (com olhos de cobiça) Dois casamentos é muito melhor que apenas um.
D. Filó: Que isso Padre?
Padre: Ora! Pensemos. Seu Celestino não quer o casamento de Dalberto com Juvenocência, mas certamente ia querer o casamento de Maricota com o Bastião. Olha que a menina já está passando da idade. Então, tudo ficaria em família e todos poderiam comungar da felicidade.
Inocência: Maricota, minha fia, cê qué mesmo casá com o nosso bastião.
Maricota: Quero sim, d. Inocência.
Juvenal: Mais aí quem num qué sou eu. Bastião é muito novo.
Celestino: E meu fio também num é?
Juvenal: Mais eli imbuxou a minha fia. Qué que o Bastião faça o mesmo, qué?
Celestino: Si fizé eu mato.
Juvenal: Intão vô matá u Dalberto.
Inocência: Ai! Que Deus nos acuda!
D. Filó: Valha-me Deus.
Padre: Irmãos... Temos que manter a calma.

Cena IX
(Entra o Delegado)

Delegado: Qui furduncio é este aqui? Uns passam por aqui e falam de briga, outros falam qui o padre veio correndo por que tinha gente morta... Qué qui tá acontecendo?
Juvenal: Dalberto imbuxou minha fia e num qué casa.
Dalberto: (amedrontado) Meu pai é qui num qué.
Celestino: E num quero mesmo.
Maricota: Mais eu quero casá com o Bastião.
Bastião: Aí quem num qué é meu padrin.
Juvenal: Pois é muito novo i num imbuxou ninguém.
Bastião: (puxando Maricota) Num seja pur isso. Vem Maricota.
Delegado: Fica quieto aqui, seu fio dum cão sarnento.
Inocência: Que isso seu dotô?
Padre: Vamos casá-los todos.
Delegado: é o melhor mesmo.
Dalberto: Si meu pai num qué, eu num caso.
Delegado: Casa.
Dalberto: Num caso.
Delegado: Casa ou vai pro xilindró.
Dalberto: Eu caso, perfeitamente.
Celestino: (com ares de satisfação) E Maricota, também casa, não?
Juvenal: Craro qui não!
Delegado: Casa.
Juvenal: Num casa.
Delegado: Então quem vai pru xilindró é você.
Juvenal: Casa e com a minha bênção.
Inocência: Acho qui tudo vai si arresolvê, né D. Filó.
D. Filó: Graças a Deus, d. Inocência, graças a Deus.
Delegado: Então Padre, quando podemos realizar os casórios?
Padre: hoje mesmo. Eu os conheço a todos e sei que não há nem um impedimento. Façamos a celebração logo mais a noitinha. Afinal a questão é de urgência.
Delegado: Pois então, tá resolvido. Tem casório hoje.
Juvenocência: Ti amo, Dalberto.
Dalberto: Também ti amo, minha flô!
Maricota: Ti amo, Bastião.
Bastião: Também ti amo Maricota.
Padre: Tudo na santa paz.

Cena X
(Entra um guarda correndo)

Guarda: Seu delegado, seu delegado...
Delegado: Respira e fala homem de Deus. O que aconteceu pra você vira assim tão esbaforido.
Guarda: Dona Tristina... seu delegado... seu delegado... dona Tristina tá lhe chamando... é urgente... urgente, seu delegado.
Delegado: Calma, respira com calma. Pronto. Já está bom, não está.

(O guarda faz um gesto de cabeça)

Delegado: Então agora fala com calma o qui aconteceu?
Guarda: É sua fia, seu delegado, sua fia tá imbuxada e ela num qué fala quem foi qui lhe feiz mar!
Juvenocência: Mar nada, é muito é du bom, sô!
Guarda: Ela num qué falá quem foi não. Ela num qué falá si foi o Dalberto ou si foi o Bastião.
Delegado: É hoje qui eu mato um.

(Levanta o revólver da tiros para cima, todos correm, cai o pano.)