A vida sempre nos traz aspectos curiosos e nem sempre temos tempo ou cabeça para refletir sobre eles.
Osvaldo é um jovem senhor que já passou por muitas coisas na vida. Já teve esposa, filhos, já teve carro, casa, trabalho e todo o conforto que o dinheiro pode comprar e também seus infortúnios.
Hoje, maltrapilho, caminha quase sempre descalço pelas ruas da cidade pedindo ora aqui ora ali, remexendo o lixo, catando coisas, sempre com seu ar cansado, abatido e com uma languidez poética que somente esses seres a possuem.
Nos áureos tempos de sua vida, deu tudo o que podia e o que não podia para a esposa e para os filhos. Porém, para ela nada era bom o bastante e apaixonou-se por um homem dez anos mais velho e mais rico que Osvaldo. Tomado pelo ciúme, exigiu satisfações e no meio da discussão não teve o apoio dos filhos que não quiseram dar-lhe ouvidos e apoiaram a mãe. Mãe é mãe. E partiram para cima de Osvaldo como os cães que avançam sobre o mais fraco.
A mulher foi viver com o amante e os filhos sumiram no mundo.
Osvaldo começou a beber, perdeu o trabalho, a casa, o carro, a dignidade. Sem precisar de nada além da consciência e sem dinheiro para manter o vicio, parou de beber, mas se recusou a retomar a vida. Achava que, sendo como era, se voltasse ao mundo dos calculistas que te medem pelo dinheiro que possues, certamente cairia de novo. Assim, acostumou-se ao mundo simples que o cercava. Do mesmo modo que o olhavam com indiferença, ele também era indiferente às pessoas que passavam por ele. Dormia onde achasse abrigo. Comia o que lhe davam ou achasse no lixo. Não se importava com nada, com absolutamente nada.
Um dia, em um destes dias em que o sol brilha tão intensamente que as pessoas mal têm coragem para abrir um olho e vivem em plena modorra, Osvaldo estava sentado embaixo de uma árvore que lhe trazia abrigo e refresco, comendo um resto de comida arrumada em um pote de margarina, quando viu que dele se aproximava um cachorro tão magro quanto ele.
O olhar súplice do cão o hipnotizou, melhor, seduziu. E sem pensar na fome que sentia, estendeu o pote de comida para o cão que imediatamente começou a balançar o rabo desconfiado. Osvaldo colocou o pote ao seu lado e esperou que o cachorro viesse. E veio e comeu e deitou em seu colo para descansar e agradecer pela comida generosamente dividida.
Desse dia em diante, Quincas, como fora batizado por Osvaldo, nunca mais o abandonou e segue sua jornada ao lado do amigo. Ninguém vê um sem ver o outro. Osvaldo e Quincas, o cachorro magro. E ninguém sabe quem é um quem é outro. Ambos são a mesma figura.
Professor, que é isso???????
ResponderExcluirUma reescrita de Machado de Assis. Não tem criatividade própria?????