Após dezenas e dezenas de críticas, resolvi perdoar essas mulheres que me acusaram de machista sem perceber que, nas entrelinhas, eu me coloquei como o mais perfeito canalha; e que, por fim, não creditaram às mães a culpa pelas mentiras dos homens. Insistem que as mães ensinam os homens a não mentir, pois bem, leiam-me com atenção desta vez.
Tenho um grande amigo, o Alfredo, homem que nunca mentiu, nem quando criança, nem nunca. Agradável, sabe conversar como poucos; pai de três filhos e divorciado há alguns poucos meses.
Desde pequeno, sua mãe, D. Augusta, que Deus a tenha, sempre lhe ensinou:
- Alfredinho, papai do céu não gosta de mentiras, mentir é feio, diga sempre a verdade, por mais que doa...
Vai então, que Alfredinho com cinco ou seis anos, brincando de bola na sala, e diga-se logo que dentro de casa não é lugar para tornar-se um Roberto Carlos da vida, mesmo que este ainda não fosse nem nascido, prepara-se para cobrar uma falta e acerta em cheio o vaso de cristal, herança de sua bisavó, partindo-o em mil pedaços. D. Augusta assustou-se, fazia a “ciesta” e veio pronta a ver o que tinha acontecido.
- Filho de Deus, o que você fez?
Alfredinho, papai do céu não gosta de mentiras, contou-lhe tudo e tome uma saraivada de mãos e chinelos.
- Dentro de casa não é lugar de jogar bola, por que não foi para a rua...
- Porque mamãe não deixa, dizia ele entre um soluço e outro.
- Já de castigo...
Meia hora depois, D. Augusta entra no quarto do filho e explica, carinhosamente,
que a surra que ele, Alfredinho, tinha acabado de tomar, foi pelo vaso que já atravessava séculos e que mamãe estava nervosa e que ainda bem que ele disse a verdade, senão poderia ter sido muito pior e que ela o amava e que...
- Diga sempre a verdade, Alfredinho!
Tempos depois, ainda criança, Alfredinho, teve sua primeira e grande decepção. Sua professora, sua amada professora era casada. Ficou tão magoado que nem quis pegar nos cadernos para estudar para a prova do dia seguinte. Zero. Quando D. Augusta recebeu a prova para assinar, como o deveriam fazer todos os pais, quis saber o motivo de tal façanha.
Alfredinho, mentir é feio, contou-lhe tudo e tome nova saraivada de mãos e chinelos; onde já se viu um moleque, naquela idade...
- Já para o quarto de castigo...
Alguns minutos depois.
- Desculpe filhinho, mamãe ficou nervosa... É só isso que você tem para fazer na vida... Você ainda é uma criança... Deveria gostar apenas de mamãe... Aprenda que você não pode confundir as coisas... Você ainda é uma criança... Diga sempre a verdade, Alfredinho!
E Alfredinho cresceu, tornou-se Alfredo. Homem íntegro, jamais mentiu. Passava por todas as dificuldades do mundo sem reclamar, sem pestanejar, sempre crescendo e sempre com sua honestidade ilibada.
Casou-se aos vinte e sete anos, já com casa e reputação formada. Seu único vício, talvez, era o “happy hour” com os amigos uma ou outra vez por semana, com pleno conhecimento da mulher.
Certa vez, encontrou o sogro que saía feliz com duas mulheres a tiracolo. O sogro, conhecendo a fama do genro, ficou vermelho, estático, depois sorriu, “coisas de homem”, disse e seguiu em frente. Chegou em casa de madrugada. Teve bafafá. Convocou o genro, um homem jamais entrega o outro, a depor em seu favor. Alfredo depôs... Contra o sogro que perdeu casa, mulher, o amor dos filhos e, principalmente, da filha. Alfredo entristeceu-se, mas diga sempre a verdade, Alfredinho, por mais que doa...
Sua sogra entrou em depressão e morreu pouco depois. O sogro de vez em sempre o acusava de não ser solidário e de ter matado a esposa. Se ela nunca ficasse sabendo...
Nasceram-lhe os filhos, todos grandes e saudáveis, três homens, três rapagões.
Vai que um dia, lembrando-se de sua mãe, a sempre venerável D. Augusta, comete um erro grosseiro no escritório, destes dignos de um novato.
Convocado pelo chefe a dar explicações, Alfredinho, papai do céu não gosta de mentiras, contou-lhe que se distraiu a lembrar de sua eterna e amada mãe. Perdeu o emprego. Todo mundo no escritório, quando faziam besteira, colocavam a culpa no novato, afinal ele estava aprendendo e mesmo sendo o patrão tão ranzinza, perdoaria o novato; nunca alguém com experiência. Alfredo nunca mentiu. Alfredinho, mentir é feio...
Trinta anos de dedicação e agora Alfredo não sabia o que fazer, pela primeira vez sentiu o peso do mundo. Saiu sozinho e foi a um bar encher a cara. Triste e desconsolado, bebeu demais e deixou-se levar. Na entrada do motel cruza com o sogro que sai e lhe manda a cara um sorriso de total satisfação. Alfredo não vê o triunfo do sogro, está bêbado demais para se dar conta do que fazia.
Quando chega em casa é dia alto. A mulher o interroga:
- O que aconteceu com você, Alfredo, fiquei preocupada, você nunca fez isso, desaparecer sem avisar...
Alfredinho, diga sempre a verdade, por mais que doa...
Alfredo contou-lhe tudo, caiu de joelhos, implorou perdão, mas a mulher o comparou ao pai que chegava neste exato momento para humilhar pelo menos um pouquinho o miserável do genro, porém, sua filha não lhe deu tempo e mandou os dois às favas...
Alfredo é respeitado, nunca mentiu. Trabalha hoje como autônomo. Tem muitos clientes. Ajuda a sustentar os filhos, frutos de um casamento de trinta anos e um único erro. Vive muito bem sozinho. Longe do sogro, bem longe do sogro. Vive bem, com saudades, é verdade, com muitas saudades...
E que D. Augusta, que Deus a tenha, descanse em paz!
terça-feira, 23 de novembro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Cachorro Magro
A vida sempre nos traz aspectos curiosos e nem sempre temos tempo ou cabeça para refletir sobre eles.
Osvaldo é um jovem senhor que já passou por muitas coisas na vida. Já teve esposa, filhos, já teve carro, casa, trabalho e todo o conforto que o dinheiro pode comprar e também seus infortúnios.
Hoje, maltrapilho, caminha quase sempre descalço pelas ruas da cidade pedindo ora aqui ora ali, remexendo o lixo, catando coisas, sempre com seu ar cansado, abatido e com uma languidez poética que somente esses seres a possuem.
Nos áureos tempos de sua vida, deu tudo o que podia e o que não podia para a esposa e para os filhos. Porém, para ela nada era bom o bastante e apaixonou-se por um homem dez anos mais velho e mais rico que Osvaldo. Tomado pelo ciúme, exigiu satisfações e no meio da discussão não teve o apoio dos filhos que não quiseram dar-lhe ouvidos e apoiaram a mãe. Mãe é mãe. E partiram para cima de Osvaldo como os cães que avançam sobre o mais fraco.
A mulher foi viver com o amante e os filhos sumiram no mundo.
Osvaldo começou a beber, perdeu o trabalho, a casa, o carro, a dignidade. Sem precisar de nada além da consciência e sem dinheiro para manter o vicio, parou de beber, mas se recusou a retomar a vida. Achava que, sendo como era, se voltasse ao mundo dos calculistas que te medem pelo dinheiro que possues, certamente cairia de novo. Assim, acostumou-se ao mundo simples que o cercava. Do mesmo modo que o olhavam com indiferença, ele também era indiferente às pessoas que passavam por ele. Dormia onde achasse abrigo. Comia o que lhe davam ou achasse no lixo. Não se importava com nada, com absolutamente nada.
Um dia, em um destes dias em que o sol brilha tão intensamente que as pessoas mal têm coragem para abrir um olho e vivem em plena modorra, Osvaldo estava sentado embaixo de uma árvore que lhe trazia abrigo e refresco, comendo um resto de comida arrumada em um pote de margarina, quando viu que dele se aproximava um cachorro tão magro quanto ele.
O olhar súplice do cão o hipnotizou, melhor, seduziu. E sem pensar na fome que sentia, estendeu o pote de comida para o cão que imediatamente começou a balançar o rabo desconfiado. Osvaldo colocou o pote ao seu lado e esperou que o cachorro viesse. E veio e comeu e deitou em seu colo para descansar e agradecer pela comida generosamente dividida.
Desse dia em diante, Quincas, como fora batizado por Osvaldo, nunca mais o abandonou e segue sua jornada ao lado do amigo. Ninguém vê um sem ver o outro. Osvaldo e Quincas, o cachorro magro. E ninguém sabe quem é um quem é outro. Ambos são a mesma figura.
Osvaldo é um jovem senhor que já passou por muitas coisas na vida. Já teve esposa, filhos, já teve carro, casa, trabalho e todo o conforto que o dinheiro pode comprar e também seus infortúnios.
Hoje, maltrapilho, caminha quase sempre descalço pelas ruas da cidade pedindo ora aqui ora ali, remexendo o lixo, catando coisas, sempre com seu ar cansado, abatido e com uma languidez poética que somente esses seres a possuem.
Nos áureos tempos de sua vida, deu tudo o que podia e o que não podia para a esposa e para os filhos. Porém, para ela nada era bom o bastante e apaixonou-se por um homem dez anos mais velho e mais rico que Osvaldo. Tomado pelo ciúme, exigiu satisfações e no meio da discussão não teve o apoio dos filhos que não quiseram dar-lhe ouvidos e apoiaram a mãe. Mãe é mãe. E partiram para cima de Osvaldo como os cães que avançam sobre o mais fraco.
A mulher foi viver com o amante e os filhos sumiram no mundo.
Osvaldo começou a beber, perdeu o trabalho, a casa, o carro, a dignidade. Sem precisar de nada além da consciência e sem dinheiro para manter o vicio, parou de beber, mas se recusou a retomar a vida. Achava que, sendo como era, se voltasse ao mundo dos calculistas que te medem pelo dinheiro que possues, certamente cairia de novo. Assim, acostumou-se ao mundo simples que o cercava. Do mesmo modo que o olhavam com indiferença, ele também era indiferente às pessoas que passavam por ele. Dormia onde achasse abrigo. Comia o que lhe davam ou achasse no lixo. Não se importava com nada, com absolutamente nada.
Um dia, em um destes dias em que o sol brilha tão intensamente que as pessoas mal têm coragem para abrir um olho e vivem em plena modorra, Osvaldo estava sentado embaixo de uma árvore que lhe trazia abrigo e refresco, comendo um resto de comida arrumada em um pote de margarina, quando viu que dele se aproximava um cachorro tão magro quanto ele.
O olhar súplice do cão o hipnotizou, melhor, seduziu. E sem pensar na fome que sentia, estendeu o pote de comida para o cão que imediatamente começou a balançar o rabo desconfiado. Osvaldo colocou o pote ao seu lado e esperou que o cachorro viesse. E veio e comeu e deitou em seu colo para descansar e agradecer pela comida generosamente dividida.
Desse dia em diante, Quincas, como fora batizado por Osvaldo, nunca mais o abandonou e segue sua jornada ao lado do amigo. Ninguém vê um sem ver o outro. Osvaldo e Quincas, o cachorro magro. E ninguém sabe quem é um quem é outro. Ambos são a mesma figura.
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
O vendedor de sonhos
I
Em toda grande cidade existem ruas de pouco movimento, pouquíssimo movimento; verdadeiras ruelas com casebres se desmanchando ao sabor do tempo.
É em uma dessas ruas que se encontra o vendedor de sonhos. Uma casinha sem janelas e que a porta dá direto para a rua. É ali, rente à porta, que ele se senta atrás de uma banqueta tão velha quanto ele, com uma plaqueta carcomida com os dizeres: Vendem-se sonhos. A tinta está tão desgastada que é preciso apertar os olhos para conseguir ler. Mas, isso somente para quem não tem sonhos e não quer comprá-los.
Eu que sou andarilho por natureza, percebi a banqueta e fui conversar com o velho de longas barbas, cabelos desgrenhados, com uma túnica marrom a cobrir-lhe o corpo. Cumprimentei-o e ele não deixou escapar um monossílabo. Perguntei que tipo de sonhos ele vendia, uma vez que não havia mostruário. Ele simplesmente me disse que os sonhos eram de responsabilidade daqueles que o procuravam. Sem entender o que ele dissera, perguntei, então, que tipo de sonho ele me venderia, ao que ele respondeu que eu não tinha sonhos. Ainda mais confuso e percebendo que ele não era de conversa, afastei-me.
Há poucos metros dali, havia um barzinho, desses que não inspiram confiança a ninguém, mas que tinha mesas dispostas na calçada, ponto estratégico para minha observação. Sentei, pedi qualquer coisa e fiquei algumas horas a observar o vendedor de sonhos que em nenhum instante mudara de posição.
Perguntei ao dono do bar se ele conhecia o vendedor e ele me disse que não, que aquele senhor mudara-se havia poucos dias e que nunca saía de casa.
Voltei para casa intrigado, mas disposto a voltar lá no dia seguinte e quantos outros fossem necessários para descobrir se alguém compraria algum sonho daquele estranho senhor.
II
Passaram-se dias até que percebi um rapaz, vinte e poucos anos, muito abatido, se aproximar da banqueta. Conversaram por alguns minutos e o vendedor mandou que ele abaixasse a cabeça em sua direção, tocou a testa do rapaz com o dedo indicador e esperou. Alguns segundos depois, o rapaz parecia outra pessoa. Estava um tanto desnorteado, mas pegou da carteira para pagar o homem que o transformara, porém foi inútil. O Velho o repreendeu e não aceitou nada. O rapaz seguiu e após essa negociação, se é que houve, o estranho senhor recolheu a banqueta e trancou-se dentro de casa. Isso devia ser por volta das três horas da tarde. Em minha cabeça, que já não é das melhores, instalou-se o caos.
Passaram-se seis dias até que ele reassumisse o posto.
Eu precisava de um sonho, eu tinha que ter um sonho. Depois de muito pensar, descobri um, guardado no fundo da memória, sonho de infância que a vida adulta apagara.
III
Quando me aproximei, o vendedor de sonhos me olhou com interesse, porém sua única reação foi com os olhos. Não disse uma palavra. Eu, ali, parado à sua frente, ansioso, tremendo, esperando que ele dissesse alguma coisa e ele não se movia, apenas me olhava. Não sei quanto tempo se passou, mas criei coragem e perguntei:
- Então, quanto custa o meu sonho?
- Quanto você quer pagar por ele? Respondeu-me somente com um mover de lábios.
Não entendi a pergunta, mas disse, envolvido na inexperiência de comprador e na ingenuidade do sonhador, que pagaria o quanto e o que ele quisesse. Creio ter visto nessa hora esboçar-se um sorriso em seu rosto.
Sua voz, que era fraca e sumida, desapareceu por completo e não entendi nada do que ele me disse em seguida. Contudo, como se estivesse ouvindo, aceitei tudo sem questionar, afinal, eu não sabia o que questionar.
Mandou que eu me curvasse em sua direção e então, fez comigo o mesmo que fizera com o rapaz. Tocou-me com o dedo indicador na testa e...
IV
Quando abri os olhos, tudo era diferente, não estava mais no mesmo lugar. As ruas eram largas, asfaltadas, sinalizadas. Por toda a minha volta, havia casas de primeira ordem, verdadeiros palacetes. Tudo muito colorido e com uma vida que eu não conseguia atinar. Eu estava feliz, feliz como nunca me lembrara de ter sido.
Olhei para o vendedor, um rapaz que aparentava uns vinte e cinco anos, sabia que tinha que pagá-lo, só não me lembrava por quê. Quando peguei da carteira, ele rapidamente repreendeu-me o gesto. Não entendi nem a repreensão nem minha ação. Estava diante de alguém que aparentemente tinha me perguntado alguma coisa, não sei, não me recordo. Dei alguns passos e dei de cara com o carro que me esperava. Entrei e mandei que seguisse para o hotel. Que hotel? Eu ainda não sabia.
Na recepção do hotel, fui tratado por doutor. Quando lhe pedi a chave do apartamento, fui informado que minha esposa havia chegado e estava à minha espera. Não lembrava de ser casado, mesmo assim, subi ansiosamente. Tanto que o elevador pareceu levar horas até o meu andar.
Entrei e ouvi uma voz doce e melodiosa vinda do banheiro perguntando:
- É você, meu amor?
Automaticamente respondi que sim e fui até o banheiro. Fui convidado a entrar na banheira junto com aquela mulher loira, linda, de quem eu já vira o rosto – não me lembrava onde – e que eu sabia que era minha. Sem saber como ou por quê, disse-lhe que não podia me demorar, tinha uma reunião em poucos minutos.
V
Nada mais é digno de nota. Minhas lembranças se fundiram à do mega-empresário que eu era. Reuniões, festas, jantares... Tudo o que o dinheiro podia comprar eu tinha. Não era apenas casado, tinha amantes, várias amantes que eu presenteava com jóias, carros, com o que elas me pedissem. Mesmo assim, sentia que amava minha esposa, mas o jogo é o que realmente me interessava.
Os dias iam se sucedendo e eu viajava tanto que nem me lembrava mais onde morava. Estava sempre em um hotel diferente, sempre resolvendo questões que envolviam milhões ou bilhões.
Até que, saindo de uma loja, onde acabara de comprar um belo solitário para a mulher com quem passara a última noite, quase derrubei um menino que corria em minha direção. Seus traços me eram familiares, muito familiares. Ele me entregou um bilhete e desapareceu na multidão.
“Teu sonho acaba a meia-noite.”
Intrigado e sem entender nada, enfiei o bilhete no bolso e segui. Para onde? Eu não tinha idéia.
Após horas de caminhada, consultei meus bolsos e vi que só havia uns trocados. A jóia que eu tinha nas mãos, não passava de bijuteria, algo barato que eu não sabia para quem daria. Estava tonto, precisava deitar.
Entrei num hotel barato e peguei um quarto. O recepcionista me chamava de doutor e estava ricamente vestido contrastando com o ambiente que era sujo, fétido até. Perguntou se eu não queria por aquela jóia no cofre do hotel e eu disse que aquilo não precisava de cofre. Ficaria comigo.
No quarto, tudo era ainda mais estranho. Metade do quarto era de uma beleza extraordinária e a outra parecia um prostíbulo. E eu já tinha estado lá antes. Como? Quando? Eu não sabia.
Lavei meu rosto e vi no espelho um velho, barbas longas, cabelo desgrenhado... Aquele não era eu. Apertei os olhos e vi um menino, aquele que me entregara o bilhete, e ele se parecia muito comigo. Tudo rodava. O que estava acontecendo?
Deitei em minha cama, sabia que ela era minha, só não sabia como ela havia ido parar no quarto de hotel onde eu estava. Tudo era muito confuso. Procurei o relógio – eu tinha um Rolex no pulso – e só encontrei um rádio-relógio na cabeceira da cama. Eram nove horas. Fechei meus olhos e dormi.
VI
Quando acordei, eram onze e meia e nada do que eu tinha visto me parecia real. A casa onde eu estava era simples, parecia que eu morava lá. Os móveis me eram familiares, porém somente de onde eu os observava. Eu não conseguia sair da cama. Meu corpo estava paralisado.
De repente, tudo correu pela minha mente. Meu nascimento, minha infância, minha formatura, meu trabalho num jornal de baixíssima circulação, minha solteirisse, minha boemia, minha vida vazia sem amigos, sem mulheres e sempre com o dinheiro contado, meu isolamento, a morte da mãe, do pai, a falência da família, a tentativa de me reerguer, a traição da única mulher que amei na vida, o sofrimento, o abandono, a falsidade das poucas, pouquíssimas pessoas que conviviam comigo, as dívidas, as estranhas dividas que havia contraído sem nem mesmo saber como ou por que, os sonhos apagados na memória que nunca se realizaram e que eram não um, mas dezenas, enfim... A dor aguda... Eu era só... Não tinha ninguém por mim... E nada mais eu teria... Meu cérebro calou-se... Minha última frase: Meia-noite.
Fechei meus olhos. Senti em minha testa um dedo. Abri os olhos e o vi pela primeira e última vez. Seu rosto era jovem, era o meu rosto que me sorria e me dizia: “adeus”. Automaticamente, peguei da carteira. Repreendido por mim mesmo, saí, peguei um táxi e fui para casa. Estava feliz. Deitei em minha cama e dormi. Minha última frase: “meia-noite”.
Seis dias após a minha morte, o velho vendedor de sonhos abria sua porta um pouco mais rejuvenescido e exibia sua pequena placa, menos carcomida que antes, até que chegasse a hora de se mudar novamente.
Em toda grande cidade existem ruas de pouco movimento, pouquíssimo movimento; verdadeiras ruelas com casebres se desmanchando ao sabor do tempo.
É em uma dessas ruas que se encontra o vendedor de sonhos. Uma casinha sem janelas e que a porta dá direto para a rua. É ali, rente à porta, que ele se senta atrás de uma banqueta tão velha quanto ele, com uma plaqueta carcomida com os dizeres: Vendem-se sonhos. A tinta está tão desgastada que é preciso apertar os olhos para conseguir ler. Mas, isso somente para quem não tem sonhos e não quer comprá-los.
Eu que sou andarilho por natureza, percebi a banqueta e fui conversar com o velho de longas barbas, cabelos desgrenhados, com uma túnica marrom a cobrir-lhe o corpo. Cumprimentei-o e ele não deixou escapar um monossílabo. Perguntei que tipo de sonhos ele vendia, uma vez que não havia mostruário. Ele simplesmente me disse que os sonhos eram de responsabilidade daqueles que o procuravam. Sem entender o que ele dissera, perguntei, então, que tipo de sonho ele me venderia, ao que ele respondeu que eu não tinha sonhos. Ainda mais confuso e percebendo que ele não era de conversa, afastei-me.
Há poucos metros dali, havia um barzinho, desses que não inspiram confiança a ninguém, mas que tinha mesas dispostas na calçada, ponto estratégico para minha observação. Sentei, pedi qualquer coisa e fiquei algumas horas a observar o vendedor de sonhos que em nenhum instante mudara de posição.
Perguntei ao dono do bar se ele conhecia o vendedor e ele me disse que não, que aquele senhor mudara-se havia poucos dias e que nunca saía de casa.
Voltei para casa intrigado, mas disposto a voltar lá no dia seguinte e quantos outros fossem necessários para descobrir se alguém compraria algum sonho daquele estranho senhor.
II
Passaram-se dias até que percebi um rapaz, vinte e poucos anos, muito abatido, se aproximar da banqueta. Conversaram por alguns minutos e o vendedor mandou que ele abaixasse a cabeça em sua direção, tocou a testa do rapaz com o dedo indicador e esperou. Alguns segundos depois, o rapaz parecia outra pessoa. Estava um tanto desnorteado, mas pegou da carteira para pagar o homem que o transformara, porém foi inútil. O Velho o repreendeu e não aceitou nada. O rapaz seguiu e após essa negociação, se é que houve, o estranho senhor recolheu a banqueta e trancou-se dentro de casa. Isso devia ser por volta das três horas da tarde. Em minha cabeça, que já não é das melhores, instalou-se o caos.
Passaram-se seis dias até que ele reassumisse o posto.
Eu precisava de um sonho, eu tinha que ter um sonho. Depois de muito pensar, descobri um, guardado no fundo da memória, sonho de infância que a vida adulta apagara.
III
Quando me aproximei, o vendedor de sonhos me olhou com interesse, porém sua única reação foi com os olhos. Não disse uma palavra. Eu, ali, parado à sua frente, ansioso, tremendo, esperando que ele dissesse alguma coisa e ele não se movia, apenas me olhava. Não sei quanto tempo se passou, mas criei coragem e perguntei:
- Então, quanto custa o meu sonho?
- Quanto você quer pagar por ele? Respondeu-me somente com um mover de lábios.
Não entendi a pergunta, mas disse, envolvido na inexperiência de comprador e na ingenuidade do sonhador, que pagaria o quanto e o que ele quisesse. Creio ter visto nessa hora esboçar-se um sorriso em seu rosto.
Sua voz, que era fraca e sumida, desapareceu por completo e não entendi nada do que ele me disse em seguida. Contudo, como se estivesse ouvindo, aceitei tudo sem questionar, afinal, eu não sabia o que questionar.
Mandou que eu me curvasse em sua direção e então, fez comigo o mesmo que fizera com o rapaz. Tocou-me com o dedo indicador na testa e...
IV
Quando abri os olhos, tudo era diferente, não estava mais no mesmo lugar. As ruas eram largas, asfaltadas, sinalizadas. Por toda a minha volta, havia casas de primeira ordem, verdadeiros palacetes. Tudo muito colorido e com uma vida que eu não conseguia atinar. Eu estava feliz, feliz como nunca me lembrara de ter sido.
Olhei para o vendedor, um rapaz que aparentava uns vinte e cinco anos, sabia que tinha que pagá-lo, só não me lembrava por quê. Quando peguei da carteira, ele rapidamente repreendeu-me o gesto. Não entendi nem a repreensão nem minha ação. Estava diante de alguém que aparentemente tinha me perguntado alguma coisa, não sei, não me recordo. Dei alguns passos e dei de cara com o carro que me esperava. Entrei e mandei que seguisse para o hotel. Que hotel? Eu ainda não sabia.
Na recepção do hotel, fui tratado por doutor. Quando lhe pedi a chave do apartamento, fui informado que minha esposa havia chegado e estava à minha espera. Não lembrava de ser casado, mesmo assim, subi ansiosamente. Tanto que o elevador pareceu levar horas até o meu andar.
Entrei e ouvi uma voz doce e melodiosa vinda do banheiro perguntando:
- É você, meu amor?
Automaticamente respondi que sim e fui até o banheiro. Fui convidado a entrar na banheira junto com aquela mulher loira, linda, de quem eu já vira o rosto – não me lembrava onde – e que eu sabia que era minha. Sem saber como ou por quê, disse-lhe que não podia me demorar, tinha uma reunião em poucos minutos.
V
Nada mais é digno de nota. Minhas lembranças se fundiram à do mega-empresário que eu era. Reuniões, festas, jantares... Tudo o que o dinheiro podia comprar eu tinha. Não era apenas casado, tinha amantes, várias amantes que eu presenteava com jóias, carros, com o que elas me pedissem. Mesmo assim, sentia que amava minha esposa, mas o jogo é o que realmente me interessava.
Os dias iam se sucedendo e eu viajava tanto que nem me lembrava mais onde morava. Estava sempre em um hotel diferente, sempre resolvendo questões que envolviam milhões ou bilhões.
Até que, saindo de uma loja, onde acabara de comprar um belo solitário para a mulher com quem passara a última noite, quase derrubei um menino que corria em minha direção. Seus traços me eram familiares, muito familiares. Ele me entregou um bilhete e desapareceu na multidão.
“Teu sonho acaba a meia-noite.”
Intrigado e sem entender nada, enfiei o bilhete no bolso e segui. Para onde? Eu não tinha idéia.
Após horas de caminhada, consultei meus bolsos e vi que só havia uns trocados. A jóia que eu tinha nas mãos, não passava de bijuteria, algo barato que eu não sabia para quem daria. Estava tonto, precisava deitar.
Entrei num hotel barato e peguei um quarto. O recepcionista me chamava de doutor e estava ricamente vestido contrastando com o ambiente que era sujo, fétido até. Perguntou se eu não queria por aquela jóia no cofre do hotel e eu disse que aquilo não precisava de cofre. Ficaria comigo.
No quarto, tudo era ainda mais estranho. Metade do quarto era de uma beleza extraordinária e a outra parecia um prostíbulo. E eu já tinha estado lá antes. Como? Quando? Eu não sabia.
Lavei meu rosto e vi no espelho um velho, barbas longas, cabelo desgrenhado... Aquele não era eu. Apertei os olhos e vi um menino, aquele que me entregara o bilhete, e ele se parecia muito comigo. Tudo rodava. O que estava acontecendo?
Deitei em minha cama, sabia que ela era minha, só não sabia como ela havia ido parar no quarto de hotel onde eu estava. Tudo era muito confuso. Procurei o relógio – eu tinha um Rolex no pulso – e só encontrei um rádio-relógio na cabeceira da cama. Eram nove horas. Fechei meus olhos e dormi.
VI
Quando acordei, eram onze e meia e nada do que eu tinha visto me parecia real. A casa onde eu estava era simples, parecia que eu morava lá. Os móveis me eram familiares, porém somente de onde eu os observava. Eu não conseguia sair da cama. Meu corpo estava paralisado.
De repente, tudo correu pela minha mente. Meu nascimento, minha infância, minha formatura, meu trabalho num jornal de baixíssima circulação, minha solteirisse, minha boemia, minha vida vazia sem amigos, sem mulheres e sempre com o dinheiro contado, meu isolamento, a morte da mãe, do pai, a falência da família, a tentativa de me reerguer, a traição da única mulher que amei na vida, o sofrimento, o abandono, a falsidade das poucas, pouquíssimas pessoas que conviviam comigo, as dívidas, as estranhas dividas que havia contraído sem nem mesmo saber como ou por que, os sonhos apagados na memória que nunca se realizaram e que eram não um, mas dezenas, enfim... A dor aguda... Eu era só... Não tinha ninguém por mim... E nada mais eu teria... Meu cérebro calou-se... Minha última frase: Meia-noite.
Fechei meus olhos. Senti em minha testa um dedo. Abri os olhos e o vi pela primeira e última vez. Seu rosto era jovem, era o meu rosto que me sorria e me dizia: “adeus”. Automaticamente, peguei da carteira. Repreendido por mim mesmo, saí, peguei um táxi e fui para casa. Estava feliz. Deitei em minha cama e dormi. Minha última frase: “meia-noite”.
Seis dias após a minha morte, o velho vendedor de sonhos abria sua porta um pouco mais rejuvenescido e exibia sua pequena placa, menos carcomida que antes, até que chegasse a hora de se mudar novamente.
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Profissão: Mãe
Muitas mulheres são mães dedicadas, carinhosas e zelosas com o lar. Porém, há algumas que extrapolam os limites e se tornam verdadeiras profissionais. É o que aconteceu com Claudiomira, 30 anos e dona de uma beleza inigualável. Como ela é na hora do sexo? Não tenho idéia, mas dizem que ela é boa, muito boa.
Claudiomira precisava dar uma ajeitada na casa, estava grávida do quinto filho e apesar do dinheiro que recebia regularmente, precisou fazer um empréstimo, pois queria construir mais um quarto na casa.
O gerente do banco a recebeu muito bem. Aliás, quando se trata de dinheiro todos os gerentes nos recebem com sorrisos, mas basta uma contrariedade para que fechem a cara e se tornem verdadeiros muquiranas.
Diante um do outro, confortavelmente sentado, o gerente – Claudiomira não estava mal – começou a interrogá-la:
- De quanto a senhora precisa?
- Não sei ao certo... O suficiente para alguns reparos, uma pintura e para construir mais um quarto na casa.
- A casa é da senhora?
- Sim! E está inteiramente quitada.
- Ótimo, ótimo...
- A senhora possui renda, pois não?
- Sim, mas é insuficiente para fazer tudo o que quero.
-E o garoto? É para quando? perguntou o gerente apontando para a barriga de Claudiomira.
- Para daqui a dois meses.
- Entendo... Bem vamos preencher o cadastro. Nome completo?
- Claudiomira Bastos Batista da Silva Lima e Silva.
- Profissão?
- Mãe.
- Desculpe-me senhora, mas isso não é profissão e a senhora disse que possui renda própria, creio eu?
- Sim!
- Então?
- Sou mãe e tenho renda.
- Do seu marido, então?
- Não sou casada.
- Então? Como explica....
- Calma. É bem simples, muito simples. Cada um dos meus filhos é de um pai diferente e vivo da pensão de cada um deles. Exceto deste que está chegando. A briga vai ser longa.... O pai não quer reconhecê-lo....
Claudiomira precisava dar uma ajeitada na casa, estava grávida do quinto filho e apesar do dinheiro que recebia regularmente, precisou fazer um empréstimo, pois queria construir mais um quarto na casa.
O gerente do banco a recebeu muito bem. Aliás, quando se trata de dinheiro todos os gerentes nos recebem com sorrisos, mas basta uma contrariedade para que fechem a cara e se tornem verdadeiros muquiranas.
Diante um do outro, confortavelmente sentado, o gerente – Claudiomira não estava mal – começou a interrogá-la:
- De quanto a senhora precisa?
- Não sei ao certo... O suficiente para alguns reparos, uma pintura e para construir mais um quarto na casa.
- A casa é da senhora?
- Sim! E está inteiramente quitada.
- Ótimo, ótimo...
- A senhora possui renda, pois não?
- Sim, mas é insuficiente para fazer tudo o que quero.
-E o garoto? É para quando? perguntou o gerente apontando para a barriga de Claudiomira.
- Para daqui a dois meses.
- Entendo... Bem vamos preencher o cadastro. Nome completo?
- Claudiomira Bastos Batista da Silva Lima e Silva.
- Profissão?
- Mãe.
- Desculpe-me senhora, mas isso não é profissão e a senhora disse que possui renda própria, creio eu?
- Sim!
- Então?
- Sou mãe e tenho renda.
- Do seu marido, então?
- Não sou casada.
- Então? Como explica....
- Calma. É bem simples, muito simples. Cada um dos meus filhos é de um pai diferente e vivo da pensão de cada um deles. Exceto deste que está chegando. A briga vai ser longa.... O pai não quer reconhecê-lo....
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Cio
Viriato, manhosamente, arrumava as malas. Iria a São Paulo a negócios e pretendia ficar por lá cerca de duas semanas. Era empresário, o ramo não importa.
Ajeitava as calças com certo desvelo e os paletós com certa contrariedade. Era péssimo nesse tipo de arrumação. Sua esposa é quem o ajudava nesse ofício. Porém, dona de uma clínica veterinária, tivera uma emergência e deixou ao marido a incumbência de arrumar a própria mala e de cuidar de Alfonsinho, filho do casal. Entretanto, prometeu voltar a tempo de lhe dar um beijo.
Enquanto ajeitava as gravatas, Alfosinho chegou e disparou:
- Pai, o que é cio?
A pergunta pegou Viriato de surpresa.
- Por que isso, meu filho?
- A mamãe é que tava falando no telefone para D. Armínia que a cadela tava no cio.
Alfonsinho, cinco para seis anos, presta atenção em tudo.
- Bem meu filho, o cio é quando a cadela está pronta para procriar e então...
- O que é procriar?
- É quando a cadela está pronta para gerar filhotes.
- Gerar?
- É filho, os cachorrinhos crescem dentro da barriga da cadela até nascerem e mostrarem o focinho para o mundo.
- Pai, eu sou um cachorrinho?
- Claro que não, filho. Você é um ser humano.
- Mas eu cresci na barriga de mamãe, né?
- Cresceu!
- E como os filhotes vão parar na barriga da cadela?
- É por isso que existe o cio.
- O que é cio?
- Então, a cadela está pronta para gerar filhotes. O cachorro vem e... Como vou dizer isso!
- Faz a cobertura?
- É, é... Como você sabe?
- Vi na televisão.
- E por que está me perguntando isso, então?
- Ué, eu não sei o que é cio.
- E como você sabe da cobertura?
- Foi só isso que eu vi. O macho chega, cheira a fêmea e faz a cobertura. Mas não falaram nada sobre cio.
- Pois é, o cio é isso.
- Isso o quê?
- Quando a cadela está pronta para procriar e o cachorro faz a cobertura.
- E...
- Isso é o cio?
- Não entendi.
- Ai, meu Deus! Sabe quando você sente muita vontade de comer chocolate?...
- Isso é cio?
- É, é, é... Não, mas é mais ou menos assim que os cachorros ficam.
- Ah!...
- Entendeu?
- Não.
Silêncio.
- Pai, só os cachorros ficam no cio?
- Não meu filho, todos os animais ficam no cio.
- Pai, nós somos animais?
- Somos, filho, claro que somos.
- Então, nós ficamos no cio, né?
- Não, filho só os animais...
- E o que nós somos?
- Animais.
- Então?
- Mas nós somos diferentes. Já não temos mais este instinto.
- Instinto?
- É, sua mãe é melhor para lhe explicar isso, mas é como se a fêmea tivesse um cheiro diferente durante determinada época, que atrai o macho.
- Isso é o cio, né pai?
- É.
- Agora entendi.
- Ufa! Sussurrou.
- Pai.
- Sim, meu filho.
- Eu cresci na barriga da mamãe, né?
- Cresceu.
- Depois eu nasci, não foi?
- Foi.
- Eu não sou um cachorrinho, né?
- Claro que não, meu filho, você é um ser humano.
- Então a mamãe... Não tem cio.
- Não, filho, nós seres humanos não precisamos mais do cio para procriar.
- E como a gente faz?
- É bem parecido com os animais. Apenas não precisamos de uma época certa para fazer isso.
- Isso o quê?
- Procriar.
- Ter filhotinhos?
- Ter filhos.
- Ah! E como o senhor sabe que a mamãe está pronta para a cobertura?
- Não é assim. A gente apenas fica junto e então...
- Faz sexo.
- Isso, isso... Ei, quem te disse isso?
- Ora papai, todo mundo sabe que tanto os animais como as pessoas fazem sexo. Que nos animais o cio é que determina a época de eles se acasalarem. Mas as pessoas não precisam disso e fazem sexo quando querem. Que mamãe e papai fizeram e por isso eu cresci na barriga da mamãe e por isso eu nasci.
- É.
- Só não entendo é por que vocês continuam fazendo sexo. Eu não quero um irmãozinho.
- Mas, mas, como você sabe de tudo isso?
- Mamãe me explicou tudo ontem à noite.
- Então, por que veio perguntar para mim?
- Eu só queria ver se o senhor sabia.
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